Bahia, 29 de Março de 2024
Por: CNN Brasil
31/05/2021 - 06:59:32

Estimativas da Universidade de Washington (EUA) indicam uma tendência de alta que aponta para três mil mortes diárias por Covid-19 no Brasil no início de junho, com um pico de 4 mil no pior dos cenários. Alguns especialistas já preveem uma terceira onda da doença no país.

Embora tenha ocorrido um recuo importante no número de mortes diárias desde abril (quando passou de 4 mil), a estabilidade permanece em um patamar muito alto (por volta dos 2 mil), o que leva alguns estudiosos da pandemia a afirmar que o país ainda nem saiu da segunda onda. Há ainda os que defendem que continuamos na primeira e outros que já vislumbram uma quarta.

As definições de início e término das ondas da Covid-19 diferem entre os estudiosos da pandemia consultados pela CNN. Apesar das diferentes concepções, todos concordam que alguns fatores podem ser decisivos para uma nova alta no número de casos e mortes pela doença no Brasil. Entenda o que são as ondas e o que ainda pode ser feito para evitá-las.

Divergências no conceito de onda

O conceito físico de onda passou a ser aplicado para contextualizar o comportamento da pandemia. Segundo os especialistas, o termo não tem como embasamento critérios científicos estabelecidos no campo da epidemiologia, mas está relacionado principalmente ao aumento acentuado no número de casos.

Não há um consenso entre os estudiosos sobre a definição de início e término de cada onda. Para alguns, o crescimento do número de casos e mortes já é um indicativo de uma nova fase. O que significaria que o Brasil poderia estar numa quarta onda, por exemplo.

Para outros, uma onda só pode ser considerada encerrada com uma baixa significativa dos índices, chegando a ter apenas casos esporádicos – o que não aconteceu no Brasil até o momento. Segundo essa teoria, o Brasil ainda estaria em sua primeira e única onda.

Para o pesquisador José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo (USP), a explicação de onda reflete o que mostram os gráficos da evolução da Covid-19 em uma região. O surgimento de uma onda pode ser caracterizado quando uma localidade apresenta um ritmo de aumento progressivo de casos. Segundo o especialista, o movimento natural é que a escalada nos índices atinja um pico, permaneça em estabilização por um tempo – o chamado platô (quando não há aumento nem redução significativas dos números), e então comece a descer, indicando o final da onda.

“Quando observamos os gráficos da pandemia no Brasil, vemos claramente que houve uma onda entre abril e maio de 2020. Em junho, o número de casos e mortes foi caindo, fazendo esse formato de onda. Depois, houve uma segunda, muito maior, relacionada à variante P.1, que começou em dezembro e teve o pico em março. Já estamos na parte de descida dessa onda”, analisa.

No entanto, a saída dessa segunda onda deve ser lenta, pondera Levi. “Isso porque estamos diante do descumprimento total das regras de distanciamento e abandono do uso da máscara”, ressaltou.

Para o microbiologista da USP, a primeira onda foi consequência da introdução e dispersão do vírus no país. “Depois, houve uma queda devido à implementação de medidas de isolamento, e uma certa exaustão dos grupos mais suscetíveis, ou seja, quem poderia ser infectado já foi”, explica.

Ele afirma ainda que a segunda onda, da qual ainda estamos saindo, teve um impacto muito maior do que a primeira, com recordes diários de casos e mortes. Segundo Levi, a amplitude da onda está diretamente relacionada com intervenções, como a implementação das medidas de distanciamento social, que podem levar a uma redução dos números de forma mais acentuada. 

O pesquisador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Marcelo Gomes, prefere usar o termo “fases” e explica que, de acordo com as análises do grupo, já foram observadas pelo menos três de crescimento acentuado no número de casos no país: em março e novembro de 2020, e em janeiro de 2021.

“Os índices caíram no final de março, e agora estamos numa fase de estabilização [considerando o número de casos e mortes] que é superior aos picos do ano passado”, comenta.

O pesquisador afirma que há uma divergência entre especialistas em saúde pública e da área da epidemiologia em relação ao conceito de ondas da Covid-19. “Muitos defendem a interpretação de que, para dizer que uma onda encerrou, teriam que ser atingidos níveis significativamente baixos de casos, o que nunca houve no Brasil, por exemplo.”

Diferentemente do Brasil, países como Reino Unido, França e Austrália tiveram uma caracterização mais precisa das ondas (veja quadro abaixo). Os gráficos da pandemia nesses países mostram um crescimento intenso no número de casos, a formação do pico, e uma redução acentuada e contínua até índices significativamente baixos.

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