Bahia, 20 de Abril de 2025
Por: bol.uol.com
20/04/2025 - 07:20:23

A Páscoa celebra a ressurreição de Jesus Cristo, mártir da religião, e pode ser considerada a mais importante festa cristã. Porém, a celebração já existia desde a Antiguidade, embora com outro significado.
Até hoje, inclusive, tem sentido diferente para judeus e cristãos. A data religiosa acontece sempre em um domingo e vai muito além dos ovos de chocolate.

A origem da Páscoa

A origem da Páscoa é antiga, mais velha para os judeus do que para os cristãos, inclusive. "Sabemos que essa festa está  muito ligada a um ambiente pastoril, agrário, rural. Era uma festa que existia na Antiguidade no que seria o Oriente Médio
hoje. Provavelmente a Páscoa nasceu como uma festa em comemoração do nascimento das ovelhas na primavera", conta Gerson

Leite de Moraes, coordenador do curso de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Na tradição judaica, a Páscoa acontece a partir do momento em que os israelitas se libertam da escravidão dos egípcios. Não é fácil precisar datas, já que os registros arqueológicos são escassos. É possível situar o período de escravidão próximo ao século 13 antes de Cristo, na época do reinado do faraó Ramsés 2º (1279 a 1213 a.C.).

Na Bíblia, o livro do Êxodo (o segundo no Antigo Testamento) é tradicionalmente atribuído a Moisés. Relata o período da escravidão dos hebreus, a saída do povo do Egito e a peregrinação rumo a Canaã, a chamada Terra Prometida. O texto é recheado de passagens que contam o sofrimento do povo sob o jugo egípcio.

Moisés não aceitou a truculência escravocrata e matou um egípcio. Com medo da sentença de morte, fugiu para o deserto. Depois, foi reenviado ao Egito para propor uma saída da escravidão
Daí se tem uma definição da Páscoa: saída de uma definição de escravidão em busca de liberdade. Por isso que o termo
hebraico 'Pessach' significa saída, passagem, esperança, no sentido de superar a escravidão.

Como ganhou contornos religiosos?

"No horizonte bíblico, os israelitas são um povo peregrino, migrante, nômade. Ao longo das andanças, foram tendo contato com vários povos e religiões. Houve também contato com religiões politeístas. Eles foram agregando elementos à cultura
religiosa, obviamente sem colocar em risco o horizonte monoteísta", diz o professor da PUC-SP.

Entre Moisés e Jesus, há uma separação estimada entre 1.200 e 1.500 anos. Mas há semelhanças no histórico entre os dois povos.

Na época de Moisés, por exemplo, os judeus sofreram nas mãos dos egípcios. Já nos tempos de Jesus, o perseguidor estava na figura do Império Romano, que contava com o apoio de alguns grupos de judeus. "Jesus não aceitava a dominação
política imperial romana e não aceitava que seus conterrâneos tivessem uma parceria interesseira com a dominação romana. Na época, Jesus foi visto como ameaça e isso gerou uma perseguição", afirma o frei Lisaneos Prates.

A morte de Jesus foi antecedida da Última Ceia, ou seja, da celebração da Páscoa judaica. Em uma sexta-feira —a Sexta-feira da Paixão ou Sexta-feira Santa—, Jesus foi condenado à morte, sendo crucificado. "A morte de Jesus causou uma dispersão nos primeiros seguidores, por causa do risco de também serem brutalmente assassinados. Muitos se esconderam. E aí vem a ressurreição de Jesus, que foi definitiva para a nova Páscoa. É a cristianização da Páscoa judaica feita pelos seguidores de Jesus", completou Prates.

Claro que houve descrença, como explica Helmut Renders, pastor e professor colaborador na Pontifícia Universidade de São Paulo. "Não há uma linha direta de confiabilidade. Não existem provas nem certezas que conseguem desfazer a necessidade de confiança, de fé. Páscoa é uma afirmação da fé. Não há uma forma de cientificamente aprovar ou reprovar", diz.

O relato bíblico dá conta que, após a ressurreição no domingo, Jesus teria convivido com seus seguidores por aproximadamente 40 dias, antes de ascender aos céus. A cruz virou símbolo.

Primeiro papa

Sem Jesus, começou a difusão do cristianismo a partir do trabalho dos seguidores de Jesus. É o caso de Pedro, um dos apóstolos e considerado o primeiro papa da Igreja Católica. Até então, o cristianismo era considerado um ramo dentro do judaísmo.

No ano de 325, o imperador Constantino organizou o Concílio de Niceia, quando foi dada liberdade de culto aos cristãos. No ano 380 d.C., durante o governo de Teodósio, o cristianismo se tornaria a religião oficial do Império Romano.

Por que a data da Páscoa muda?

Foi no concílio de Niceia que a data da Páscoa começou a ser discutida. O consenso atual é que a Páscoa tem relação direta com eventos da natureza. O primeiro ponto é a chegada do equinócio de primavera (no hemisfério Norte) — ou seja, a transição de inverno para primavera —ou equinócio de outono (no hemisfério Sul). O fenômeno acontece entre os dias 20 e 22 de março.

"A partir daí, você tem que esperar a primeira lua cheia. O próximo domingo após a lua cheia é o domingo de Páscoa", diz Gerson Leite de Moraes. "Da Páscoa, se conta 47 dias para trás, até chegar à Quarta-feira de Cinzas, que marca o
início da quaresma", completa.

Como o Coelhinho da Páscoa entra na história?

É impossível separar a Páscoa tradicional da que envolve o Coelhinho da Páscoa e os ovos de chocolate. É como pensar em Natal —em memória ao nascimento de Jesus— sem Papai Noel. Acredita-se que a tradição do coelhinho tenha raízes na Europa.

"O coelho simboliza a vitalidade. É um animalzinho que tem uma fecundidade a  toda prova. Isso corresponde à proposta pascal, com o novo que deve emergir", aponta Prates, da PUC-SP. "Já o ovo como símbolo de ressurreição faz parte da
iconografia medieval e isso, de certa forma, é preservado nas nossas tradições por meio dos ovos de Páscoa", afirma Helmut Renders.

 

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