Bahia, 15 de Janeiro de 2025
Por: veja.abril.com
15/01/2025 - 12:09:47

Os gestores de fundos multimercados macro, que olham de perto para indicadores da economia para se posicionar em diversas classes de ativos, estão em alerta. Diante das idas e vindas do governo com o anúncio do pacote de controle de gastos, a leitura é uma só: o ajuste anunciado ano passado é insuficiente para endereçar os problemas do país.
Para a Genoa Capital, o pacote fiscal, que foi uma oportunidade de enviar um sinal de maior cuidado com as contas públicas, passou a ser “um palanque para anunciar a medida de isenção de imposto de renda até R$ 5 mil”, um projeto “com sérios riscos” de gerar efeitos para a política fiscal. “Já operamos como se estivéssemos em 2026, ano eleitoral”, diz a casa.

A visão é semelhante ao que afirma a Legacy Capital, que ressalta aos seus investidores que o pacote de cortes de gastos do governo “não é capaz de produzir uma trajetória de convergência para a dívida”. “O Banco Central, mesmo pré-contratando  mais duas elevações de juros, não será capaz de, sozinho, reverter a piora das expectativas e da confiança, que poderá se intensificar à frente.” Na mesma linha, a Kapitalo Investimentos diz que a preocupação dos agentes econômicos
com a agenda fiscal “ganhou outros contornos”, com uma dinâmica que preocupa cada vez mais o mercado e que exige que o governo trabalhe mais para recuperar a credibilidade.

“Entendemos que o governo deve apresentar medidas adicionais para lidar com esse tema”, diz a gestora.
Para a Ace Capital, o que começou “com um incômodo com a política fiscal” de curto prazo do governo evoluiu rapidamente “para uma crise de confiança generalizada”. “Fica cada vez mais consolidada a visão de que a cabeça do governo já está no pleito de 2026”, diz a gestora. “A probabilidade de qualquer ajuste fiscal de verdade começa a cair drasticamente, enquanto a probabilidade de mais medidas populistas aparecerem ao longo do tempo aumenta.”

A JGP, também no rol entre as mais relevantes gestoras independentes, ressalta a proposta do governo pode não ser suficiente para cumprir as metas de resultado primário contidas no arcabouço fiscal — 0% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e 0,25% do PIB em 2026. “Não se pode excluir a ocorrência de outros episódios de deterioração financeira em
2025”, afirma a casa.

A Absolute Investimentos deu ênfase ao movimento recente do câmbio. Para a casa, mesmo com a utilização de reservas cambiais, a expressiva depreciação do real chama a atenção, em meio a uma crise de confiança persistente. “Sem medidas claras que demonstrem o compromisso do governo com a gestão da dívida pública, a crise de confiança atual impacta negativamente o fluxo cambial e intensifica a volatilidade da moeda”, nota.

A gestora Opportunity também acompanha o cenário, destacando que diversas economias continuam apresentando “sinais mais fortes de debilidade”. “No Brasil, ainda nos preocupamos com a falta de âncora fiscal sólida”, diz a casa. “As prioridades da base do governo não parecem ter sofrido alterações significativas.”

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