Este texto, espécie de Linha de Tempo, publicado neste “5 de Novembro”, é um apelo, em nome dos meus filhos Leandro e André, que aqui nasceram, no sentido de que esta data, tão importante para a nossa história, não seja esquecida.
Teoney Guerra*
NOS PRIMÓRDIOS, lá pelo final da década de 1950, ela foi denominada de “Estrada de Porto Seguro”, e “Rua da Meia Água”: Estrada de Porto Seguro, por fazer parte do traçado da estradinha tortuosa que, passando por dentro da povoação, dava acesso ao antigo “Ramal” - a estrada que hoje é a rodovia BR 367 -, e Rua da Meia Água, pelas casinhas que a margeavam, feitas de taipa, umas cobertas de palhas de ouricana – uma palmeira nativa -, outras de tabuinhas, e denominadas de “meia água”, em razão desses tetos estarem dispostos com inclinação para a parte da frente, para onde escorriam as águas das chuvas. Eram construções toscas, que abrigavam famílias ou pequenos estabelecimentos onde funcionavam dormitórios, pequenas vendas e casas de prostitutas.
Onde hoje é o primeiro quarteirão da rua – em ambos os lados - havia o prostíbulo, o brega, onde os peões que trabalhavam na construção do Ramal, que eram denominados de garimpeiros satisfaziam suas necessidades sexuais.
A PARTIR DO FINAL DA DÉCADA DE 60, o povoado começava a se tornar um centro fornecedor de mercadorias para as cidades vizinhas, em razão dos armazéns aqui instalados, que revendiam o sal, açúcar, querosene, utensílios e uma infinidade de outras mercadorias. E a rua que começava a ser urbanizada, com a implantação do calçamento, era ocupada, na maior parte, por residências, com quintais sombreados pelos coqueiros, jaqueiras e outras árvores frutíferas.
Nessa década, em 1967, foi instalado na Porto Seguro, o Banco de Crédito da Bahia, primeira agência bancária do povoado.
NO INÍCIO DA DÉCADA DE 70, a rua – e o povoado - recebeu a primeira filial de uma grande rede de lojas, a Lojas Pernambucanas, e um dos seus mais importantes símbolos, o Grande Hotel – construído por José de Araújo Santana, o Araujão. Um estabelecimento que marcou época na cena urbana da avenida e na história do povoado. Na época, predominavam no povoado as pensões e hospedarias simples, baratas.
Data de meados dessa década, a desativação do prostíbulo, que ocorreu a partir do ano de 1975, quando o empresário Antônio Suaid, mais conhecido como Toninho da Brahma, adquiriu uns quinze dos pequenos imóveis então existentes, e construiu no local a sede da sua empresa, a Distribuidora Ideal - onde hoje há uma loja de materiais de construção. A partir daí, outros empresários adquiriram diversos imóveis, onde instalaram novas casas comerciais e, já no final da década, já não havia o prostíbulo, que “foi transferido” para o bairro Pequi.
NO INÍCIO DA DÉCADA DE 80, a rua já arborizada, perdeu muito as características de rua residencial, e se tornava comercial. Transformação que teve continuidade durante todo o restante dos anos 80 e foi “concluída” na década seguinte.
Transformada na principal rua do comércio local, por volta do final da década de 90 e início do século atual, a Porto Seguro passou a conviver com problemas como o trânsito cada vez mais intenso e a falta de espaços para se estacionar os veículos.
A ATUAL DÉCADA deixa como marca a demolição das últimas edificações dos anos 50 e 60, então existentes da rua: o Grande Hotel e dois outros predinhos próximos - um dos quais foi o primeiro sobrado feito no então povoado -, que foram substituídos por prédios imponentes que abrigam grandes lojas, símbolo da modernidade, do consumismo perverso e impiedoso que destruiu o pouco que restava do nosso patrimônio histórico, da nossa memória, e com eles, um capítulo importante da nossa história.
*Teoney Guerra é pesquisador da história de Eunápolis
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