Bahia, 28 de Abril de 2025
EUNÁPOLIS

Cinco de Novembro: 62 anos da criação do povoado de Eunápolis
Cinco de Novembro* foi aclamado data de criação do povoado de Eunápolis, e desde então, a data passou a ser comemorada.
Por: Teoney Guerra/Pesquisador da História de Eunápolis
04/11/2012 - 13:44:48

 Há 62 anos, o Cinco de Novembro* foi aclamado data de criação do povoado de Eunápolis, e desde então, a data passou a ser comemorada. Inicialmente, com a celebração de uma Missa campal, aos pés do Cruzeiro que foi erguido no local onde fora celebrada a missa histórica - no acampamento da Emenge, que depois foi transformado em praça, a Praça do Cruzeiro.

Porém, foi a partir de meados da década de 60, após a fundação do Clube Social de Eunápolis (em 24/12/1966) que a data passou a ganhar uma festa com características populares, com a realização de brincadeiras típicas da época, como corridas saco, corrida de jegue e torneios de futebol. Tempos em que as ruas do povoado ainda eram de terra, sem designação – sem nomes -, e o que hoje são quarteirões nas principais ruas e avenidas, a exemplo da Porto Seguro e Santos Dumont, era áreas pouco ocupadas, com as pequenas casas e grandes quintais.

Com o desenvolvimento do Comércio e da povoação, as comemorações do Cinco de Novembro ganharam novos elementos, e a partir da década de 70, com a implantação da indústria madeireira e o boom econômico, se tornou em uma grande festa popular, com uma duração de três ou quatro dias e uma programação com bailes, Missa, Concurso Literário, Festiva de Música regional, Programa de Calouros e atividades recreativas e esportivas. 

Entre as tantas atividades, o ponto alto era a Gincana, realizada sempre no dia 5, eorganizada pela própria comunidade, através de diversas entidades, como Lions, Rotary, lojas maçônicas e a participação de pessoas do meio social. O apoio através dos patrocínios vinha das prefeituras e câmaras de Vereadores de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, além do Comércio local. Empresas como a rede de supermercado Pague Menos, de seu Zé Dantas; a loja Eletro Radiolar, sociedade de Zé Dantas com Sinval e Lucas Reis; a loja A Brasília, de Fernandão; os empresários Pedro Trindade, Enéas Brito e Marcos Marinho, são alguns nomes que são lembrados como grandes patrocinadores dessas competições recreativas.

A cada noite era realizado um baile no Clube Social, reunindo a fina flor da sociedade local.E durante o dia, as corridas de Bicicletas e Jegue, Torneio de Futebol, Concurso Literário, Festiva de Música regional e o Programa de Calouros, este, comandado pelo médico Darlan, movimentavam a região central do então povoado. Porem, nada se comparava à Gincana. A competição que era realizada sempre no dia 5 de Novembro, depois da Missa campal, durava todo o dia, adentrando a noite, e levava à avenida Porto Seguro e praça da Bandeira multidões estimadas em até 30 mil pessoas, que lotavam as calçadas e até marquises. Porém, o clima de expectativa e disputa já tomava conta da população ainda na véspera, com a formulação das questões, a cerimônia de apresentação das equipes e o Baile da Rainha. As questões, depois de formuladas pelo bioquímico, Aldair Neder, eram guardadas numa sacola – espécie de malote de lona que as empresas utilizam hoje em dia - que era lacrada em público e guardada no cofre da casa do Dr. Aldair. Aapresentação das equipes participantes era feita a partir da avenida Porto Seguro.De cada quarteirão saía umgrupo - algumas até com mais de 2 mil componentes, todos com as camisas iguais, como as festas de camisa de hoje -, que percorria a avenida até a praça da Bandeira, sob o aplauso das torcidas. Mis tarde, no Clube Social, em baile de gala era eleita amulher mais bela, a Rainha da Gincana.

A disputa entre as equipes no dia seguinte movimentava todo o povoado, com os milhares de componentes correndo pelas ruas, entrando em casas, procurando cumprir as tarefas designadas, as mais variadas. Ora, descobrir a pessoa mais velha da povoação ou a mulher de cabelo mais comprido. Outras vezes, levar ao palanque, um vereador ou um médico fantasiado de palhaço ou vestido de baiana com um tabuleiro na cabeça; um maçom, vestido de preto, puxando um bode também preto, coisas inusitadas, muitas vezes engraçadas, que a todos fazia rir. Numa edição da gincana, as equipes teriam que levar ao palanque uma mulher que aceitasse ter o cabelo raspado ali, em público. “E houve quem aceitasse”, declarou ainda sorrindo o medico Aldair Neder, que era o encarregado de formular as questões. Mas havia também tarefas culturais, como declamação de poemas de autores famosos.

A Oba Oba, Equipe Cão, Saporeca, a UrbisQuip são algumas das equipes lembradas, que disputaram as gincanas em diversas épocas.

Depois da Gincana, o público era presenteado com um show, ali mesmo, na praça com a apresentação de conjuntos famosos em toda a Bahia, como o Lordão e Mike Five que fizeram época. Mais importante grupo musical de Eunápolis e de todo o extremo sul, Os Águias eram sempre presença obrigatória nessas festas.

Segundo os depoimentos de pessoas que viveram a época, a última edição dessa grande festa foi também a mais bonita, e teria durado quase uma semana. Ocorreu em 1987, durante o governo de Arnaldo Guerrieri em Santa Cruz Cabrália, ano em que o Ginásio de Esportes Antônio Carlos Magalhães foi inaugurado. Por isso, os bailes forma transferidos do Clube Social, para o Ginásio, animados por ícones da música brasileira, o conjunto Os Fevers e o cantor Geraldo Azevedo.

A partir do ano seguinte, com a emancipação, a tradição foi “quebrada”, e o 12 de Maio, data da criação do município, assumiu a condição de data mais importante do povo eunapolitano.

Agradecimentos a Antônio Contelli, Dr. Ladair Neder, Dr. Eduardo e dona Fátima Coitinho.

 

Corrida de bicicleta em comemoração ao 27º aniversário do povoado de Eunápolis.

*No dia Cinco de Novembro de 1950, o padre Emiliano Gomes Pereira, pároco de Porto Seguro, celebrou onde hoje é a praça Dr. EunápioPeltier de Queiroz, mais conhecida como Praça da Bandeira, uma missa campal, para marcar a inauguração do acampamento da Construtora Emenge – que deu origem a Eunápolis. Foi nessa missa que, durante a homilia, o padre Emiliano proferiu a fase: “Aqui há de surgir um centro progressista, onde cristãos haverão de elevar bem alto os nomes de Jesus e do Brasil”, que se tornou célebre e profética para o povo eunapolitano. Na ocasião, no local foi erguido um Cruzeiro – que não existe mais – e aquele dia aclamado como a data da criação do povoado. 

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